A avaliação da fertilidade feminina deve começar com uma anamnese reprodutiva detalhada, contemplando a idade da paciente, o padrão e a regularidade menstrual, o tempo e histórico de tentativas de gestação, além do uso prévio de contraceptivos hormonais.
É essencial investigar comorbidades que interferem na função reprodutiva, como síndrome dos ovários policísticos (SOP), endometriose, doenças tireoidianas e condições autoimunes. Essas alterações podem comprometer a ovulação, o equilíbrio hormonal e o ambiente uterino necessário para a implantação.
Além dos aspectos clínicos, o estilo de vida exerce papel determinante na fertilidade. Hábitos alimentares, prática de atividade física, consumo de álcool, tabagismo e exposição a disruptores endócrinos influenciam diretamente o microambiente folicular e a qualidade oocitária.
Pequenas mudanças comportamentais podem melhorar significativamente a resposta ovulatória e a receptividade endometrial.
O exame físico também é indispensável, pois auxilia na identificação de sinais de alterações ovulatórias, hormonais ou anatômicas. Já a avaliação laboratorial complementa o diagnóstico com uma análise funcional completa do eixo reprodutivo, possibilitando uma abordagem terapêutica mais personalizada.
Se deseja compreender melhor o papel da terapia injetável no tratamento da infertilidade feminina, incluindo indicações, protocolos e evidências científicas recentes, continue a leitura para conhecer as principais opções terapêuticas e suas bases de prescrição.
Avaliação laboratorial e funcional da paciente
A investigação laboratorial deve incluir dosagens hormonais e metabólicas para um diagnóstico preciso. Recomenda-se a avaliação de:
- Perfil hormonal (3º dia do ciclo): FSH, LH e Estradiol, para avaliar a sinalização do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano;
- Reserva ovariana: Hormônio Anti-Mülleriano (AMH) e ultrassonografia transvaginal com contagem de folículos antrais;
- Função tireoidiana e prolactina: TSH, T4 livre e Prolactina, cujas alterações impactam diretamente a ciclicidade ovulatória;
- Perfil metabólico: Glicemia de jejum, insulina e cálculo do HOMA-IR, para rastreio de resistência à insulina, um fator chave em pacientes com SOP;
- Micronutrientes essenciais: Dosagem de Vitamina D (25-OH-vitamina D), Vitamina B12, ferritina e ácido fólico, que são cofatores em múltiplos processos celulares reprodutivos.
Abordagens injetáveis com potencial terapêutico na fertilidade feminina
A correção de deficiências nutricionais e o suporte ao microambiente folicular têm demonstrado impacto positivo na função ovulatória e qualidade oocitária. A via injetável, ao contornar possíveis limitações gastrointestinais de absorção, favorece a biodisponibilidade em pacientes com necessidades reprodutivas específicas.
Para ilustrar, escolhemos quatro das várias possibilidades de suplementação para discutir a reposição de vitaminas pela via injetável:
Metilcobalamina (500 mcg ou 2500 mcg IM/IV)
Forma ativa da vitamina B12, essencial para o metabolismo do folato, síntese de DNA e regulação da metilação epigenética. Estudos mostram que baixos níveis de B12 estão associados à disfunção ovulatória, menor qualidade embrionária e falhas de implantação, especialmente em mulheres com mutações no gene MTHFR (SUKUMAR et al., 2016).
A combinação com metilfolato e vitamina B5 (trio metilador) potencializa a função mitocondrial e a expressão gênica reprodutiva.
Vitaminas ADEK: suporte antioxidante e hormonal na fertilidade feminina
A combinação das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K (ADEK), em doses de 300.000 a 600.000 UI por via intramuscular, atua de forma sinérgica na regulação hormonal, no fortalecimento imunológico e na modulação do microambiente endometrial.
Essas vitaminas participam de processos fundamentais da reprodução, como a diferenciação celular, o controle do estresse oxidativo e a expressão gênica em tecidos ovarianos e uterinos, influenciando diretamente a qualidade dos oócitos e a receptividade endometrial.
A deficiência de qualquer uma dessas vitaminas, especialmente da vitamina D, está associada à redução das taxas de implantação embrionária, falhas em fertilizações in vitro e menor receptividade endometrial.
A suplementação intramuscular sob monitoramento clínico mostrou-se eficaz em restaurar níveis séricos adequados e melhorar os desfechos reprodutivos, inclusive em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) e resistência à insulina (LERCHBAUM; OBERMAYER-PIETSCH, 2012).
Glutationa (600 mg IV)
A glutationa reduzida (GSH) é o antioxidante intracelular mais abundante, fundamental na proteção do DNA oocitário contra danos oxidativos.
A suplementação intravenosa em protocolos semanais tem sido avaliada com bons resultados na melhora da qualidade oocitária e na redução do estresse oxidativo em mulheres submetidas a protocolos de reprodução assistida (TAMURA et al., 2008).
Coenzima Q10 (50 mg IM)
Componente essencial da cadeia respiratória mitocondrial, sua deficiência pode comprometer a maturação oocitária e a qualidade embrionária.
Dados mostram que a suplementação de CoQ10 melhora a função mitocondrial, aumenta o número de oócitos maduros e melhora as taxas de fertilização, especialmente em mulheres acima de 35 anos (BENTOV et al., 2014).
A otimização da fertilidade feminina exige uma abordagem integrada, que vá além do diagnóstico hormonal e anatômico, incluindo o cuidado com o microambiente metabólico e celular.
As terapias nutricionais injetáveis surgem como aliadas valiosas nesse contexto, oferecendo suporte eficaz à função ovariana, à qualidade oocitária e ao preparo endometrial.
Quando utilizadas de forma criteriosa, com base em avaliação clínica individualizada e evidências científicas atualizadas, essas estratégias podem potencializar os resultados reprodutivos e oferecer novas possibilidades a mulheres em busca da maternidade.
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Referências bibliográficas
BENTOV, Y.; YAVARZADEH, Y.; BAERWALD, A.; BARNHART, K.; KEITH, L.; BASHIR, M.; CASPER, R. F. Coenzyme Q10 supplementation and ovarian response: an RCT. Fertility and Sterility, v. 102, n. 3, p. 593–600, 2014. DOI: 10.1016/j.fertnstert.2014.05.026.
LERCHBAUM, E.; OBERMAYER-PIETSCH, B. Vitamin D and fertility: a systematic review. European Journal of Endocrinology, v. 166, n. 5, p. 765–778, 2012. DOI: 10.1530/EJE-11-0984.
SUKUMAR, N.; VELDMAN, B. A.; VAN GINNEKEN, M. M.; et al. Maternal vitamin B12 status is associated with offspring birth weight and risk of gestational diabetes. Fertility and Sterility, v. 106, n. 3, p. 653–660, 2016. DOI: 10.1016/j.fertnstert.2016.05.005.
TAMURA, H.; TAKETANI, T.; SHIMIZU, K.; KIHARA, Y.; ASADA, H.; TAKAKURA, K. Oxidative stress impairs oocyte quality and melatonin protects oocytes from free radical damage and improves fertilization rate. Reproductive Biology and Endocrinology, v. 6, p. 56, 2008. DOI: 10.1186/1477-7827-6-56.


